quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Por que os atletas chineses de Wushu são tão bons? – Parte 2

“Mas não só porque os treinadores na China tendem a ter esses recursos, mas também por causa dos recursos disponíveis para o atleta. Não, não é a mais recente sapatilha Nike Shaolinquan, ou as sedas mais deslumbrantes, mas estou falando mais sobre os recursos pelos quais eles podem desenvolver uma compreensão sobre habilidade de alto nível.”

Continuação da Parte 1
O Atleta Modelo


Muitos especialistas falam da importância do auto aprendizado tendo como referência aqueles que já estão no lugar que você quer estar. E isso faz sentido já que o seu desenvolvimento de uma habilidade é acelerado se você tiver alguém para observar que é capaz de fazer o que você quer fazer. Quando estrangeiros vêm para a China e treinam ao lado de profissionais, sua compreensão da técnica melhora porque eles são capazes de ver a maneira correta de executá-la, mas o mais importante é que eles mesmos podem pegar essa observação e trabalhar em em seu auto aprendizado imediatamente.

Lembro-me que não foi até a minha viagem para a China em 1999 que eu senti que eu realmente estava começando a compreender o sentimento do Wushu. Que era mais do que a soma das partes que eu estava montando. É como diz o ditado que você melhora algo ao máximo, quando você joga contra pessoas que são muito melhores que você. Isso força seu jogo elevar a um novo nível.

Agora, na China, estes atletas estão em uma posição onde podem aprender constantemente observando atletas de alto nível. As crianças em uma escola de Wushu estão treinando bem ao lado de atletas que estão milhas e milhas acima de seu próprio nível. E eles são capazes de observar e absorver o que eles vêem o tempo todo em que estão treinando.

Não é só o treino consistente e intenso, ou que seus treinadores têm as informações mais recentes, mas eles podem olhar do outro lado da sala e aprender observando os melhores do mundo.

Então é isso, certo? Você treina intensamente e de forma consistente por um longo período de tempo, e acrescenta a isso um treinador com recursos e a oportunidade de ter como modelo aqueles que são melhores que você, e você fica como um “louco”, “incrível” atleta profissional chinês de Wushu?

Bem, não exatamente. Porque é aí que você começa a separar o joio do trigo e fazer a distinção entre aqueles atletas que são apenas muito bons, e aqueles que são realmente excelentes.
Entre as orelhas

Existe uma razão para a qual o número de atletas na China tem diminuído tanto com o passar dos anos. Das cento e poucas crianças que podem começar a treinar juntas, talvez 40 delas continuarão treinando por mais de 5 anos. E as que estão entre elas, outras 15 se tornarão adolescentes com talento. Mas para chegar ao nível de um campeão nacional ou alguém com habilidade mundialmente reconhecida, é necessário reduzir ainda mais, onde 1 ou 2 entre 100 crianças podem realmente atingir esse nível.

(E para ser honesto, eu acho que estou sendo um pouco generoso com esses números.)

Por que isso? Bem, para ser honesto, atletas tem um algo a mais entre as orelhas. (Esse termo, do inglês “Between the Ears”, vem de estudos sobre Psicologia Pessoal e Performance, “A diferença entre um atleta bom e um campeão é muitas vezes o que está entre as orelhas!”)


Não, eu não estou falando de ser mais “inteligente” que as outras pessoas ou ter um QI maior, mas eu estou falando sobre o nível energia mental e concentração que o atleta usa para realmente entender as complexidades da técnica do Wushu. Não é tanto uma medida de inteligência, por ser mais uma medida de curiosidade, porque o atleta que está sempre se dedicando para entender Wushu e pensa sobre Wushu como sendo mais que simples séries de movimentos; que agrega uma história aos seus movimentos e pinta um quadro com a sua técnica – então este atleta estará em um nível diferente do que aquele que apenas copia a excelência.

Porque apenas aprender copiando alguém que é surpreendentemente bom não é o suficiente. Para atingir esse alto nível você tem que criar a excelência em si mesmo. É a faísca da criatividade – de criar algo único que nunca antes foi visto no mundo – que é a marca da excelência.

E não estou falando apenas de coreografia. Ter uma coreografia original sem ter criatividade em seu Wushu é, como disse Shakespeare, como uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria e sem significando. Você precisa fazer uma declaração com o seu Wushu; sobre quem você é, o que você entende e o que é importante. Não é diferente de escrever música, pintar um quadro ou escrever um romance. Se não vem de um lugar real dentro de si mesmo, então é apenas um reprodução imperfeita, uma concha vazia preenchida com falta de compreensão e muito ar quente.

Então, estamos quase lá. Mas no meu livro tem mais um ingrediente que separa muitos grandes atletas do resto de nós, pessoas comuns.

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